Não temos como negar que as marcas estão se atualizando. Seja por um atendimento mais descolado e com soluções reais vindas do social ou, até na utilização de bots, devemos admitir: muitas empresas estão ousando em usar cada vez mais todos os meios disponíveis e, principalmente, zelando pela tão necessária presença onde as pautas se reciclam a cada segundo.
Parece que as marcas estão entendendo a vocação das mídias sociais.
Entretanto, por mais que as marcas tenham investimento para estarem presentes e serem bem vistas em todas e tantas timelines, muitas ainda não detém a verdadeira e singular natividade digital. Neste caso, a própria audiência acaba por sacar o quão artificial é cada estratégia de atuação que se esforça para que os logos pareçam realmente legítimos naquilo que falam, sem querer te empurrar nenhum produto ou serviço no fim da publicação.
Até aí, surgiu um bom jeito para as marcas burlarem e se apropriarem dos principais temas & pautas que inundam as redes sociais para conseguirem falar o mesmo idioma que os usuários.
Afinal, os usuários tem variedade, falam desde pautas delicadas, cômicas, até as mais polêmicas e, muitas marcas já entraram no nível de apropriação forte, como o caso da Ragazzo, ao vincular sua comunicação a um momento político, brincando com bordões que estavam em alta na rua e fazendo promoções que deixavam claro a parcialidade da logomarca em meio aos atuais acontecimento.
Mantendo essa mesma linha de parcialidade e esbarrando em pautas que superam a delicadeza. A rede de lojas Marisa, surpreendeu ao se apoiar na morte da esposa do ex-presidente.
Na época, o post de “oportunidade” gerou PR em todos os possíveis veículos e a apropriação do tema – apesar da parcialidade e de gosto extremamente duvidoso, gerou mais visibilidade para a marca.
O ambiente digital é o único lugar onde as marcas podem, com baixo custo e muita agilidade, falar sobre determinados temas. É só aqui que você vê uma marca de cerveja que construiu seu império explorando o corpo feminino se desculpar com o respectivo público e começar a dialogar com audiências específicas com o objetivo de se desvincular de sua imagem anterior e começar a construir uma nova percepção do público.
Não é errado se apropriar de temas como este, de forma alguma, principalmente no ambiente online. Obviamente, muito se espera da própria audiência, afinal, ninguém mais qualificado para identificar se aquilo é um truque publicitário ou não, se realmente a marca esta sendo coesa e bancando o respectivo discurso ou não passa de um post ou uma mera campanha.
Hoje, a pauta atual e consequentemente a apropriação mais comum tem sido a do empoderamento feminino. Agora as marcas retratam a mulher com muito mais protagonismo, nos filmes e nas campanhas, mesmo que muitas vezes esta linha de comunicação seja explorada apenas para o público específico – afinal, sabe-se que tudo aquilo que lhe impacta na timeline foi pensado em função do seu comportamento no ambiente.
Entretanto, uma última campanha foi muito mais ousada ao se apropriar do emponderamento feminino da forma mais realista possível. Inovadora no sentido de atuar sobre a mesma perspectiva do machismo – a atual predominante cultura que nos sufoca, o ensaio provoca de forma clara e objetiva:
A Suistudio ousou e quebrou a internet com um ensaio onde, num movimento sutil, só substituiu o sexo do protagonista. Ao invés de homens bem vestidos posando ao lado de mulheres desnudas, vendendo a ideia de poder e controle por meio de uma marca de ternos, foi o oposto que causou um grande barulho nas timelines.
O tagline da campanha era bem direta ao ponto:
Somos especializados em ternos, mas não vamos vestir nenhum homem.
Questionada pela mídia, a vice-presidente da Suistudio exclamou: “O problema é na história, não vemos os homens objetificados ou em segundo plano. Que estranho, né?”. E sim, realmente, bastou a inversão de papéis e a audiência criou pauta num ensaio que cumpriu mais do que um papel de vender ternos, mas exerceu uma função social e educativa em função de um debate saudável que tomou as redes – afinal, a mídia teve de se pronunciar com informações reais sobre o assunto.
A apropriação de uma pauta – mesmo que de forma invertida, neste caso, foi de muito bom uso. As imagens tomaram as redes sociais e levantaram não somente a bandeira do feminismo, como também, se a campanha não era sexista, qual era o limite e o papel da publicidade neste caso.
Internautas debateram com afinco sobre essa questão, sempre mencionando a marca e compartilhando o tão mencionado ensaio – neste momento o dever de casa do publicitário envolvido foi feito. Para uma marca, muitas vezes, o que mais vale é todo o engajamento em torno de uma pauta que, a partir do momento que se torna propriedade dela, se converte em identificação com produtos e serviços, gerando, consequentemente, o tão esperado consumo.
Eis aqui uma inteligente forma de se apropriar de uma delicada pauta e gerar conversação para uma determinada marca ainda servindo de plataforma para discussões que fazem a diferença no convívio humano.